terça-feira, setembro 12, 2006

11 de Setembro de 2001 - 5 anos depois...

Há exactamente cinco anos, passavam pouco mais de 40 minutos das 13 horas e como sempre, antes de ir almoçar, passei os olhos pelas televisões. Tento antever algum tema que possa ter força suficiente para mudar a agenda da tarde.


A CNN mostra uma torre em chamas. Uma daquelas torres que vemos tantas vezes nos filmes norte-americanos. Um daqueles prédios que, de tantas vezes nos entrarem em casa, são também um dos prédios do nosso bairro. Um dos nossos. De repente um avião perfura uma segunda torre. E os minutos que se seguem parecem segundos. Tudo acontece demasiado depressa. Com uma brutalidade superior à força do comum dos mortais. As torres morrem. Não de pé, como as árvores. Mas amontoadas por cima de mais de seis mil inocentes. E a partir daquele momento a minha forma de olhar para o mundo mudou definitivamente. Aquelas duas torres, quando caíram, deitaram abaixo algumas das minhas verdades feitas sobre este mundo. Sobre o que pensava dos anos que tinha, potencialmente, pela frente-Recordo: perto de seis mil pessoas perderam a vida. Muitas mais morreram um pouco por dentro. Para sempre.

Por estes dias dei de caras com alguém que perdeu uma das torres de sustentação da sua vida. Décadas a correr, sem parar. Trabalho, ordenado, carreira e promoções. Filhos e mulher pelo meio. E mais filhos e mais carreira. Uma velocidade estonteante. Até esse dia. Essas 24 horas que separam o momento em que a mulher sofreu um acidente de viação e o momento em que foi declarada a sua morte clínica. Como parece desumano esse acto burocrático de declarar que alguém partiu, espera-se que para junto de Deus! E de repente o tempo, medido matematicamente pelos relógios, alterou-se. Como se alteraram as prioridades. Uma das grandes torres da vida desse amigo meu ruiu. E com ela morreu também grande parte de si mesmo. Está ainda a limpar o amontoado de pedras e ferros. Quer acreditar que naquele lugar vai um dia nascer qualquer coisa. Que não é a mesma. Nem a substitui. Mas recorda-a eternamente.


Fiquei seco de palavras depois de o ouvir. A voz ficou embargada. Por muito que pensasse em algo que o pudesse reconfortar só consegui dizer-lhe que a vida é assim mesmo. Que estes momentos, muitas vezes superiores às nossas forças, só podem ser vistos como uma ponte para sermos mais fortes. Ocorreu-me dizer-lhe que a vida é feita de uma renovação constante. E absolutamente manietado de prosa, revelei que um destes dias conheci uma pessoa muito especial. Que me devolveu uma imensa vontade de viver e acreditar no melhor que este mundo nos pode dar. Ganhei um novo amigo, contei-lhe. Tenho uma nova "torre" de sustentação. Às vezes é preciso acreditar que no mesmo local onde caem as torres pode nascer um dia outra base de sustentação.

( Rui Pedro Baptista, in jornal "Metro", 11 de Setembro de 2006)

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